quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

PIERRE BONNARD


(1867/1947)


Apesar dos encontros da Confraria estarem suspensos temporariamente não deixo de fazer minhas postagens aqui. Quem sabe depois elas servirão de pauta para nossos encontros e, porque não, de matéria de pesquisa para alguém também apaixonado por arte.

Como está colocado acima, o artista da hora é o pintor francês Pierre Bonnard e vou basear meu texto numa reportagem de Hugo Estenssoro publicado na revista BRAVO, sob o título:


A excêntrica maestria
de BONNARD




"Em agosto de 1890, a revista parisiense Art et Critique publicou o artigo assinado pelo jovem pintor de vanguarda Maurice Denis que continha a frase que muitos historiadores da arte e críticos consideram o primeiro enunciado da arte moderna: "devemos lembrar que uma pintura - antes de ser um cavalo na batalha, ou uma mulher nua ou algum tipo de narrativa - é uma superfície plana coberta de pintura organizada numa certa ordem".

Dois anos antes, sob influência de Paul Gauguin, Denis havia participado da fundação do grupo Les Nabis ( que em hebreu significa "profetas"), ao qual também pertenceram Bonnard, Édouard Vuillard, Aristide Maillol e Paul Sérusier, todos estudantes da mesma academia - a Julian. No ano seguinte, um influente crítico afirmava no Mercure de France, a mais importante revista da época, que esses jovens seriam "os mestres de amanhã", mas menos de 20 anos depois, fauvistas e cubistas os relegaram a meros antecedentes do movimento que se chamou de "pós-impressionistas". E o maior e melhor de todos os Nabis, Bonnard, mergulhou num longo período de marginalização crítica.

Muitos dos contemporâneos de Bonnard - de Renoir a Matisse - o consideravam um igual. Outros, como Picasso - que certa vez disse que a obra de Bonnard era um "pot-pourri de indecisões" - o consideravam um anacronismo vivente , uma imperdoável prolongação do passado (bom sinal, porque Picasso só atacava aqueles que temia como rivais). à propósito disso, Henri Cartier-Bresson, contemporâneo de PIcasso e Bonnard disse: [...]"You know Picasso didn't like Bonnard, and I can imagine why, because Picasso has no tenderness. [...] To me, he [Bonnard] is the great painter of the century. Picasso was a genius, but that is something quite different."
Mas seria exagero dizer que Bonnard foi ignorado. O MOMA, em 1947, ( ano de seu falecimento) fez uma grande retrospectiva para celebrar seus 80 anos, livros e monografias sobre o artista foram produzidos em quantidade e figuras de credenciais modernistas como Francis Bacon admitiram, publicamente, sua influência.

Bonnard não é um mestre de seu tempo no sentido de Leonardo, Rubens, Delacroix ou Picasso o foram nas suas respectivas épocas. Bonnard só é um mestre do século 20 no mesmo sentido de Cézanne (apesar deste ter morrido em 1906). Como ele, primeiro foi classificado pelas amizades de juventude, e logo como um excêntrico. E o mal-entendido durou longo tempo porque ambas as observações eram corretas, mas não suficientes para entendê-los. Cézanne foi considerado um incompetente; Bonnard, um passadista. Na realidade, os dois artistas trabalhavam fora do arcabouço arbitrário da cronologia crítica. Após uma breve miitância de vanguardas em sua juventude, ambos passaram a pintar para eles mesmos e não para sua época. Bonnard, como outros de sua geração, sofreu diretamente com a hegemonia que a revolução modernista conquistou entre críticos e historiadores.

Falando dos quadros de Vermeer, Proust escreveu que "qualquer que tenha sido o gênio que os tenha recriado, são sempre a mesma mesa, o mesmo tapete, a mesma mulher". Bonnard, que tinha na parede de sua casa uma reprodução de Vermeer, deve ter-se reconhecido na observação de seu amigo, inclusive porque como Proust, Bonnard, a partir de um certo momento , deixou tudo para recolher-se e reconstituir na sua obra lembranças de uma intensidade similiar às do Tempo Perdido .

Uma empregada de Bonnard contava que ele jamais pintava imediatamente as flores que ela trazia. Esperava que ficassem secas e as pintava em todo seu esplendor de memória , como tudo que pintou. O que confirma outra testemunha, uma modelo, a quem Bonnard pedia que não ficasse quieta, para depois pintá-la pairando no tempo, numa imobilidade que não era apenas a de pintura, mas a de uma imagem que fica na memória como uma epifania.

Numa das raras e memoráveis definições que fez de seu trabalho, Bonnard disse: "gostaria de mostrar o que a gente vê quando entra numa casa de repente". Poucos pintores da história da arte conseguiram realizar mais plenamente um objetivo estético. É nisso que reside a grandeza íntima e recolhida de Bonnard. O conjunto de sua obra deixa ver com clareza o longo trabalho de depuração, de contínuo despojamento que marca a trajetória de Bonnard à margem da multiplicidade revolucionária de tendências e escolas artísticas da primeira metade do século 20.

O jovem dândi do final do século 19, torna-se aos poucos um obstinado visionário do absoluto. O curioso de seu percurso é que, como Proust, precisava olhar para trás. Um detalhe importante: esse irreverente vanguardista "descobre" o impressionismo tardiamente. Mas adiantou-se aos cubistas e chegou a antecipar o abstracionismo. "A cor tem uma lógica tão forte quanto a da forma" é um de seus aforismos. O fato de ter retido os elementos iconográficos de seus antepassados impressionistas - paisagens esplendorosas, interiores banhados de luz, mulheres tomando banho - é algo evidente. A influência da fotografia, da qual aprendeu como Degas, o enquadramento arbitrário, também fica clara. Bonnard era diferente. E o que o diferencia é o uso que faz desses elementos.


Duas telas feitas em 1900: Siesta e Woman with black stockings


La lettre (a carta) - 1906
National Gallery of Art, de Washington

Uma das obras mais conhecidas de Pierre Bonnard.



Model in backlight
1907



La chambre verte
1909



La nappe à carreaux rouge ou Le déjeuner au chien
1910




Sallle à manger à la campagne
1913


Garden in southern France
1914


Nu devant le miroir
1916



The Earthly Paradise (O Paraíso Terrestre)
1916-20


Paysage de Normandie
1920



Femme avec du Mimosa
1924




Near Cannes
1925



Le corsage rouge
1925



Nu à la baignoire
1925



Portrait de l' artiste par lui-même ou auto-retrato
1930



Miroir de toilette
1930


















Dining room 1930-31


Autoportrait
1931



Nu au miroir (la toilette)
1931



La salle de bain
1932






Nu jaune (Nú amarelo) ou Nu de dos à la toilette
1934

The breakfast table 1936
...e esta a sala original da casa de Bonnard, objeto da tela anterior


Terrace at Vernonnet 1939


Le tapis rouge
1942-43




















Red roof - 1945/46



















A foto da janela da casa de Bonnard que serviu de vista para o quadro Red Roof



Quando da realizaçao da exposição PARIS 1900, da coleção do Petit Palais, no MARGS - Museu de Arte do Estado do Rio Grande do Sul ( de out a nov/2002), duas litografias de Bonnard, encomendadas por Ambroise Vollard - marchand e colecionador de arte na época - estavam presentes. Faziam parte do álbum que Bonnard intitulou de Alguns Aspectos da Vida de Paris (Quelques aspectes de la vie en Paris). Uma delas é a que está abaixo.

Chama-se Casa no Pátio (Maison dans la cour), feita em 1895-96. Foi tomada da janela do atelier que Bonnard ocupou durante 50 anos na Rua Pigalle, 28. Ao longo de sua carreira ele pintou muitas vezes esse ordenamento retangular de janelas e telhados, escolhendo enquadramentos diferentes. Nesta, o único elemento de animação é uma mulher sacudindo uma peça de roupa branca. O tema da janela, recorrente em sua obra permite-lhe estruturar sua visão e já houve quem visse nisso um símbolo da fronteira entre o público e o privado.






Então!???
Ninguém vai se manifestar?
Por favor, palpite!
:o)
Estou esperando....