sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Tarsila do Amaral

Tarsila ,
a Dama Antropofágica
(1886-1973) a grande canibal





Nascida em Capivari, em 1886, e criada numa fazenda de Jundiaí, filha de família de fazendeiros paulistas, Tarsila cresceu "livre como uma cabrita". Realiza seus estudos no Colégio Sacre Coeur, em Barcelona, de onde retorna aos 20 anos de idade. Seu primeiro contato com a pintura dá-se no atelier de Pedro Alexandrino em 1917, onde conhece Anita Malfatti.
retrato de Tarsila feito por Anita

Em seguida estuda com um alemão imigrado e em 1920 volta para a Europa, inscrevendo-se na Académie Julian e expõe pela primeira vez em 1922, no Salon des Artistes Françaises . Retorna ao Brasil após a Semana de 22 mas a tempo de engajar-se aos artistas que a promovem, através do Grupo dos Cinco (Tarsila, Anita Malfatti, Mário e Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, que os descreveu como "um grupo de doidos em disparada por toda a parte no Cadillac de Oswald"). Mesmo não tendo participado da Semana de 22 ela é considerada o emblema feminino do modernismo no País, criadora que foi das telas que marcaram a poética pau-brasil, trazendo as cores caipiras e as formas chapadas do imaginário à pintura. Paulo Herkenhoff, curador-geral da Bienal de São Paulo, edição 1999, onde Tarsila teve lugar de honra, diz que ela representou o ápice da antropofagia: a deglutição de modelos importados da Europa e a sua superação pelo exotismo, pela temática e pela projeção da cor local.Foi a grande pintora das artes plásticas da Semana de 22.
















Auto-retrato ou Manteau Rouge - Em Paris, Tarsila foi a um jantar em homenagem a Santos Dumont com esta maravilhosa capa (Manteau Rouge, em francês, significa casaco, manto vermelho). Além de linda, usava roupas muito elegantes e exóticas, e sua presença era marcante em todos os lugares que freqüentava. Depois desse jantar, pintou este maravilhoso auto-retrato.



O ano de 1923 foi decisivo em sua carreira, uma vez que, em Paris, estudou com Lhote, Gleizes e freqüentaria o atelier de Léger. Data daí sua absorção das lições de estruturação do quadro cubista,

quadro com essa tendência: a disciplina, a síntese dos elementos e a valorização da cor à maneira de Léger.


Em 1923 já se percebe a noção que os brasileiros têm sobre a imagética brasileira e isto estava claro em seus quadros de então. Coube a ela a fusão inventiva e singular da nova informação estética, com a absorção das lições do cubismo, com a magia da "atmosfera" brasileira, presente em seu trabalho em seu período máximo (1924/1930). Uma pintura de florescências e deformações oníricas, construída com formas reminiscentes do mundo rural, algumas vezes vagamente etnográficas e, segundo Sergio Millet, com uma paleta de tonalidades "caipiras". Veja o quadro Os Operários e Mamoeiro pintado em 1925,

As fases mais criativas de Tarsila foram a "pau-brasil" e a "antropofágica" nas quais ela desenvolveu uma linguagem artística própria e produziu suas obras mais importantes. A fase "pau-brasil" nasceu do contato de Tarsila com o universo da tradição popular brasileira e de sua própria coletânea de memórias da infância, passando a tecer uma poética plástica, que une o aprendizado da síntese dos traçados cubistas a um olhar deslumbrado com a geografia e as cores de nossa própria paisagem. Esta atitude artística foi apelidade de pau-brasil, nome emprestado do conjunto homônimo de poemas escritos por Oswald, com quem Tarsila se casaria mais tarde.
(Estudo para Antropofagia, nanquim sobre papel, cuja versão final está aí abaixo.)




Inaugurou sua fase antropofágica e o movimento antropofágico no Brasil - o grande objeto de comoção nacionalista - quando pintou o famoso Abaporu em 1928, rompendo com a tradição da pintura acadêmica e com o estereótipo de "dama da elite cafeeira". Obra que desmonta a anatomia de um corpo humano em perfil, ladeado por um cactus e um sol sintético. Oswald apelidou a tela e o movimento antropofágico, cujo batismo foi inspirado pela própria obra. Esta tela foi arrematada pelo colecionador argentino Eduardo Constantini por US$ 1 milhão e 300 e encontra-se exposta no MALBA - Museu de Arte Latino Americana de Buenos Aires.
Antropofagia torna-se a palavra de ordem para um novo caminho da arte brasileira, que deveria engolir certas inspirações estrangeiras para digerí-las de acordo com realidades e necessidades nacionais. Para Tarsila, a fase antropofágica marca uma expansão de pesquisas e um florescimento visual. Urutu , também de 1928, é outro importante símbolo da arte brasieira: é ela quem estampa a capa do catálogo Latin American Artists of the Twentieth Century , exposição histórica, concebida pelo MoMA Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1993, que viajou o mundo com o projeto sintético de varrer visualmente a história da arte latino-americana.

Abaporu

Após as fases "pau-brasil" e "antropofágica" Tarcila orienta sua pintura para um cunho social, chegando a expor, em 1931, no Museu de Arte Ocidental de Moscou, que lhe adquire o quadro O Pescador. O lugar de destaque ocupado pela artista no cenário das artes plásticas nacionais é surpreendente, se levarmos em conta que para ela, nos primeiros anos, a pintura era algo muito próximo de um capricho de moça rica, educada à francesa.. Seu primeiro período passado em Paris (entre 1920 e 1922) parece uma extensão desse "tipo" de compromisso de Tarsila com a arte que parece ter se modificado apenas quando retornou ao Brasil, quando conheceu o grupo modernista. Oswald de Andrade teve papel fundamental nesse período de Tarsila.

O pescador

Urutu

Sol Poente



Fonte bibliográfica: Rosa Gabriela de Castro ,texto publicado na Revista CULT/fev/1999.
Segundo Caderno ZH dia 05/01/1999 e Correio do Povo de 28/04/03.
Revista REPÚBLICA set/1997.

site oficial clique:aqui


2 comentários:

Anônimo disse...

Que felicidade!
Nevegando na web encontrei seu blog.
Nossa que coisa linda. Vida sensível na internet!

Adoro Tarsila.

Vi também e adorei seus outros blogs.

Prazer em conhecê-la.

Abraços.

Beth Kasper disse...

Olá, Ariadne!
Obrigada pela visita e volte sempre!