quarta-feira, 4 de novembro de 2009



Daniel Piza fala sobre Rodin e Nicolas Poussin

em Ver olhar e enxergar
(Caderno de Cultura/O ESTADO DE SÃO PAULO, do dia 01/11/2009)




Raramente tenho acesso à leitura do "ESTADÃO". Quando esta oportunidade acontece, "me atraco" no caderno CULTURA, onde sempre tem coisas interessantes para ler. Daniel Piza, tem um espaço neste caderno e ler o que este menino - sim, porque ele me parece um meninão - surpreende sempre. Profundo, sem ser maçante, mostra que pode ter aparência de menino, mas demonstra também que tem uma percepção de alguém com conteúdo, anos de observação e estudo. Alguém que fala com consistência.
Na sua coluna, sob o título de Ver olhar e enxergar ele "dá de relho", como se diz aqui no sul, querendo dizer neste caso em particular, que ele dá um show ao fazer sua análise particular sobre a "Era Virtual" vigente entre nós que nos torna incapazes de observar detalhadamente uma obra de arte.
Usou como exemplo, uma experiência que teve, sentado no Jardim do Museu Rodin, em Paris, de frente para uma das réplicas da estátua do O Pensador. Que as pessoas que se aproximavam da estátua, invariavelmente tentavam imitar a posição do pensador (que apoia o cotovelo direito sobre a coxa da perna esquerda).
Que das 20 pessoas que observara, apenas uma havia "se tocado" que imitava de maneira errada, ou seja: que havia colocado o cotovelo direito sobre a coxa direita. "Além disso, diz Daniel, fecharam a mão, quando na realidade os dedos estão esticados". As diferenças estão longe de ser um detalhe. A chave do estilo Rodin - aquilo que o separa do classicismo - é a tensão expressa sobretudo na angulosidade de suas formas e na irregularidade de sua superfície. Ele trabalhava sempre com situações no limite do equilíbrio e, por isso, a meu ver, a dinâmica dos volumes do corpo feminino foi (com trocadilho) seu maior campo de estudos".
Prossegue, dizendo "que uma das imagens mais surradas da história da arte - um "ícone", como se usa e abusa hoje, desvirtuando o significado original do termo - não seja devidamente apreendida por inúmeros observadores é um fato relevante para estes tempos que se dizem "Era Virtual".
(...)
"Também sua testa está franzida, seus músculos retesados e seus artelhos dobrados. Tirar sua tensão dramática é tirar o que tem de substancial. O objetivo da figura, enfim, não era caricaturizar o ato do pensamento; era traduzir sua dor e a individualidade dessa dor".
“O Pensador”. foi esculpido em bronze pelo francês Auguste Rodin. Originalmente a escultura foi chamada de “O Poeta”, pois fazia parte das esculturas baseadas na Divina Comédia de Dante Alighieri para seu trabalho A Porta do Inferno. A escultura retrata Dante diante dos Portões do Inferno, ponderando sobre seu poema.

Na próxima postagem continuarei falando ainda sobre a coluna de Daniel. Então, sobre o pintor francês Nicolas Poussin, cuja tela aparece em detalhe logo acima, chamada Hymeneus Travestido Assistindo uma dança em honra a Príapo, datada de 1632-34, do acervo do MASP, recentemente restaurada, como tema de continuidade do seu pensamento sobre a "Era Virtual".



Um comentário:

Ricardo Kersting disse...

Oi Liz..
Grande postagem gostei muito.. Realmente é difícil para quem não está familiarizado com a escultura perceber certos detalhes.Confesso que me surpreendo com o resultado do teste observado pelo autor do artigo..Por outro lado, não deveria me surpreender pois até mesmo ele sonegou aspectos igualmente importantes nessa obra..
De qualquer forma tenho certeza de que partir dessa postagem, muitas pessoas olharão mais atentamente as esculturas do mestre francês.
Abração..
P.S. Cada vez melhor esse blog...